Amizade Estelar -Capíitulo 22

  

 

22- A descoberta de Nana.

A reunião interplanetária termina naquele instante.

Preocupado, Tsurugi agradece e pede para que todos se concentrem em Nana, o que é atendido de imediato por Lorde Titã.

Porém, antes que os paramédicos da base chegassem até a sala de comunicação, Jin toma a iniciativa e pega Nana nos braços, conduzindo-a para o setor de enfermagem.

Sara o acompanha. Dan, Go e Lú fazem menção de segui-los também, porém são impedidos por Lorde Titã. O líder do Planeta Flash sabia que Jin estava levando Nana à enfermaria, e que ter uma multidão se aglomerando no local não ajudaria ninguém, muito menos os médicos que atenderiam Nana.

Os três Flashman, então, meio que a contragosto, permanecem na sala de comunicações, enquanto aguardam por notícias de Nana.

Para dissipar um pouco a ansiedade, os três decidem conversar, apenas entre eles, o que fora dito na reunião encerrada minutos antes...

As revelações feitas na referida reunião mexeram com todos.

Lú, em particular, ainda estava preocupada com o estado de saúde de Mai. Mesmo que já lhe tenham assegurado que sua prima estava fora de perigo, ela ainda tinha dúvidas quanto ao real impacto causado pela manifestação da Ave Phoênix na batalha...

Dan, lembrando-se do relato de Jun sobre seu espírito ter se unido temporariamente a ela durante a batalha, faz um esforço para tentar recordar algum detalhe, mínimo que fosse, do que ocorrera enquanto estava desacordado. Mas era inútil, pois não se recapitulava de absolutamente nada...

Go, surpreendentemente, mais ouvia do que falava naquela conversa. Afinal, ele normalmente falava pelos cotovelos. Entretanto, sua mente estava longe de estar quieta...

Intimamente, o jovem Blue Flash tinha um forte pressentimento de que sua família seria a próxima a ser descoberta...

Dado o padrão histórico observado até o momento, em sua mente, mesmo que de brincadeira, Go chegou a cogitar que um dos Changeman ou Bioman pudesse ser um parente seu, a exemplo do que aconteceu com Dan e Lú. Ele ainda não conhecia os Maskman, então se ateve aos esquadrões com que já estava familiarizado.

Em seu modo meio inocente e pueril de ver as coisas, ele imagina vários cenários “interessantes”...

Como não era bobo, logicamente ele adoraria receber a notícia que era irmão, ou primo, de uma garota bonita, como Sayaka ou Hikaru...

Nada de cueca!” – pensou de imediato.

“Tô fora!”

“Seria legal ter uma irmã..., ou prima...”

“Tanto faz...”

“Se fosse uma das duas, então, seria perfeito...”

Moleque de tudo, ele conclui no seu pensamento adolescente:

Já pensou? Go Nagisa ou Go Katsuragi?

“Que legal!”

Até que Go percebe uma falha óbvia nesse seu raciocínio...

Se Sayaka ou Hikaru fossem parentes dele, por mais bonitas que fossem, ele não poderia ter nada com elas, afinal seria incesto!

E, por mais infantil que agisse às vezes, esse era um limite moral que Go definitivamente não pretendia cruzar.

“Hmm, tem essa questão também...”

“Acho que andei lendo mangás (*98) demais quando estive na Terra...”

“Então, se eu fosse parente de alguém próximo delas...”

“Daí eles poderiam falar bem de mim para elas... Hehehe...”

“Talvez o Tsurugi, que é próximo da Sayaka, ou o Shirou, que é próximo da Hikaru...”

E Go segue mentalmente com suas fantasias adolescentes...

xxxxxxxxx

Na enfermaria da Titan Base, Jin faz questão de ver Nana sendo colocada no leito.

Parado à porta, ele fixa o olhar nela, tentando não demonstrar o que sentia, desde a primeira vez em que a viu, quando ela desembarcou no Planeta Flash semanas atrás.

A pedido do médico responsável, ele e Sara se retiram do recinto.

Aflito, e querendo ficar sozinho, Jin vai até à parte externa do complexo e se senta num banco isolado...

Ele precisava de um pouco de ar fresco, enquanto processava o turbilhão de sentimentos que circulava em sua mente.

Entretanto, logo ele percebe que Sara o seguira até lá...

A jovem Yellow Flash não tinha intenção de deixar seu amigo, seu quase irmão, sofrendo sozinho. Ela então se senta ao lado dele no banco.

Alguns segundos de silêncio se passam, sem que nenhum dos dois nada dissesse. Apenas se ouvia o som do vento do Planeta Flash...

Até que Sara é a primeira a quebrar o silêncio:

-Jin, meu querido...

-Você se lembra daquela vez que a Néfer descobriu um segredo meu e o usou contra mim?

-E, com a Urk e a Kirt, ainda zombaram de mim?

Jin olha para Sara, e responde:

-Claro que me lembro, Sara...

-Mas, por que lembrar disso agora?

Sorrindo, Sara põe sua mão no ombro de Jin, e diz:

-As coisas se inverteram, meu amigo...

-Agora, é você quem quer esconder o que sente...

-O que bate no seu peito...

-E o motivo que acelera o batimento do seu coração, e te faz ficar com as mãos suadas, como estou vendo agora, tem um nome...

-Nana, a nossa amiga do planeta Technolíquel..., acertei?

Pego de surpresa, Jin tenta desconversar, mas Sara o interrompe, carinhosamente afagando-lhe o ombro:

-Eu sou sua amiga, Jin!

-Não precisa ter vergonha e esconder de mim...

-Você está apaixonado...

-E isso é tão bonito!

-Desde o dia que ela chegou aqui, eu já tinha percebido...

Se, quando estavam na Terra, naquela vez em que Néfer descobriu que o maior desejo de Sara era ter um namorado, e ainda usou isso de forma covarde e ardilosa contra sua amiga (*99), Jin fora tão gentil, humano e amigo, dando força a ela, e fazendo com que Sara se aceitasse do jeito que era e assumisse seus sentimentos, agora os papéis se inverteram...

Agora era ela quem estava tentando ajudar Jin a aceitar seus sentimentos.

Vermelho de vergonha, Jin coça de leve a cabeça, dizendo, sem graça:

-Eu nunca consegui esconder nada de você, e nem você de mim...

Sara graceja:

-Desde crianças...

-De todos os demais, sempre tive mais afinidade com você, enquanto Dan, Lú e Go sempre foram mais afinados entre si...

-Isso não mudou, Jin!

Aquelas palavras mexem com Jin.

Já não adiantava mais esconder.

Sara tinha razão.

Ela o conhecia bem.

Os dois eram meio que cúmplices de sonhos, gostos pessoais ...

E agora, em relação aos sentimentos.

Durante os vinte anos em que cresceram no Planeta Flash, quando não estavam estudando ou treinando nos seus respectivos satélites orbitais, enquanto Dan, Go e Lú geralmente passavam mais tempo juntos, Sara preferia ficar ao lado de Jin, aprendendo sobre a tecnologia flashniana (sendo esta a razão de Sara entender muito sobre equipamentos eletrônicos e científicos, tal como Jin).

Como resultado de terem crescido juntos, os cinco Flashman se viam mais do que como amigos... eles se viam como irmãos de criação, tendo Lorde e Lady Titã como pais adotivos, e Jin como o irmão mais velho.

De certa forma, esse sentimento de familiaridade entre eles ajudara a amenizar a saudade que sentiam da Terra, e a ansiedade de, um dia, reencontrarem suas verdadeiras famílias.

A proximidade de Sara e Jin, em particular, era quase como a de um irmão mais velho protegendo e mimando a irmã caçula (embora, o título de “caçula” tecnicamente fosse de Go, que era o mais jovem dentre os Flashman). Então, apesar de terem muita afinidade entre si, Sara e Jin nunca chegaram a nutrir sentimentos românticos um pelo outro.

Jin sabia que Sara sempre fora discreta, mas, mesmo assim, pediu:

-Sara, eu gostaria que você não contasse para ninguém...

-Talvez, ela não goste de saber...

-Talvez, meu sentimento não seja recíproco...

-E...

Sara sorri, balançando a cabeça:

-Oh, Jin! Assim você me chateia!

-Logo você, que soube me entender quando eu fraquejei na Terra, sendo um amigo e um cavalheiro?

-Mas é que... - ele titubeia, mas é logo interrompido por Sara.

-“Mas é que” nada, Jin! Você está apaixonado por Nana, e pronto!

-Ninguém tem nada com isso!

-E ninguém manda no coração!

-Jamais te constrangeria ou seria indiscreta...

-Jamais!

-Eu tenho você muito mais que um amigo...

-Você é um verdadeiro irmão mais velho para mim!

-Te admiro e te respeito muito...

-E quero que você seja feliz!

Sara não estava falando tudo isso apenas da boca para fora...

Durante o tempo em que estiveram na Terra, Sara se lembra que, de todos os Flashman, Jin foi o que mais se sacrificou pela equipe. Embora Jin, assim como todos os demais, também quisesse descobrir sua família, ele sempre pôs o bem-estar de seus amigos em primeiro lugar...

Enquanto os demais tiveram a oportunidade de se divertirem, sonharem, fazerem novos amigos, e até mesmo se apaixonarem na Terra, Jin sempre teve como prioridade apoiar seus quatro “irmãos mais novos”, pondo as necessidades deles antes das próprias.

Então, na visão de Sara, se tinha alguém que tinha o direito de ser feliz, esse alguém era Jin.

Encorajado, Jin se permite sorrir:

-Ah! Sara... Obrigado!

-Fico muito feliz em ouvir suas palavras...

-Mas, eu percebi que a Nana nutre algo muito forte pelo Comandante Tsurugi, lá na Terra...

-Os olhos dela brilham quando o Comandante fala, com aquele porte altivo e nobre, porém, longe de ser esnobe...

-Eu não tenho chance...

-Eu sou mais tímido...

-E um tanto pessimista... admito...

-Não tenho o espírito de liderança dele, nem a inteligência e perspicácia do Shirou, outro líder tão bom quanto o Tsurugi...

-Não conheço ainda o Takeru, líder dos Maskman, mas, pelo que disseram, ele é muito determinado e competente também.

Sara concorda, mas faz alguns senões:

-Em partes, eu concordo, Jin...

-Porém, discordo quando você diz que não tem chance!

-E você é um líder muito competente também, Jin! E te garanto que eu, o Dan, o Go e a Lú não trocaríamos você por ninguém!

-De fato, os olhos da Nana brilham quando ela fala com o Comandante Tsurugi...

-Mas, eu percebi que você causou um certo frisson nela.

-Eu também sou mulher...

-Eu não me enganaria nisso...

-Nesse ponto, a Nana é igual a mim...

-Romântica...,

-Sonhadora...,

-Diferente, por exemplo, da Mai ou da Jun...

-Até mesmo da nossa Lú, que são mais... digamos,...duronas...

-Diferente também da Hikaru, de jeito mais doce e delicado...

-E, por fim, diferente também da Sayaka, que é formal e disciplinada, porém muito gentil, além de bastante observadora...

-Embora, como Sayaka, Nana também seja muito discreta, eu consegui perceber nela uns olhares perdidos em sua direção...

-E ainda ouvi da Lú, que ouviu da prima dela, a Mai, que Tsurugi já tem um amor e pretende se casar em breve...

-Assim que terminar essa missão...

-O nome dela é Yumiko...

Aquela notícia (em conjunto com tudo o mais que Sara havia dito) cai como um bálsamo para a alma de Jin, que parece se animar, mas ainda duvidando um pouco:

-É verdade isso, Sara?

Sara confirma, advertindo-o:

-Posso te assegurar, meu querido amigo!

-A Lú me garantiu.

-Eu só não recomendo você perguntar a ela, porque ela é muito próxima do Go. E se ele souber... já sabe, né?

Jin dá uma risada de leve. Realmente, já conhecedor do comportamento muitas vezes infantil de Go, ele sabia que seu amigo azul não perderia a chance de tirar sarro, caso soubesse de sua paixão por Nana.

Isso sem falar que Go também nunca foi muito discreto. Então, se ele descobrisse, em pouco tempo todos no Planeta Flash, e até na Terra, iam saber, o que só aumentaria o constrangimento de Jin e de Nana.

Jin segura as mãos de Sara, com um pouco mais de intensidade, concordando com ela e demonstrando cumplicidade:

-Tem razão, Sara...

-Não é prudente isso...

-Não agora, pelo menos...

-Mas, suas palavras me deram um ânimo, sabia?

-Não vou queimar etapas...

-Vou deixar as coisas caminharem no seu tempo...

Jin abraça Sara afetuosamente.

Porém, toda aquela conversa traz uma questão à mente de Jin:

-Mas, e você, Sara?

-Não creio que seu antigo desejo de ter um namorado tenha diminuído, não é?

-Você já tem alguém em mente?

Sara agora fica vermelha, porém confirma com a cabeça, pois também tinha um segredinho afetivo para contar...

Ela também se interessou por alguém de um dos Esquadrões na Terra!

Se ela pudesse voltar à Terra, jurou pra Jin que não teria medo de assumir seus sentimentos, mesmo que corresse o risco de, eventualmente, tomar um fora.

“Faz parte da vida” ela chegou a dizer.

-Posso saber quem é o felizardo que conquistou o seu coração, minha amiga?

Envergonhada, Sara sussurrou-lhe a resposta ao ouvido, como se quisesse ter certeza de que mais ninguém ouviria, mesmo estando os dois sozinhos.

Jin a elogia, sem citar o nome do pretendente de sua amiga:

-Que ótima escolha, Sara!

-Combina com você!

-Faço votos que ele sinta o mesmo por você e, quem sabe um dia, o destino possa uni-los e vocês sejam felizes...

Um novo abraço sela aquela conversa íntima.

E decidem não conversar mais sobre aquele assunto na volta para o interior da base...

Eles não queriam que os demais descobrissem e tripudiassem em cima deles.

xxxxxxxx

Cerca de meia hora depois, sozinha no quarto, Nana acorda.

De início, estava confusa. Afinal, num instante estava na sala de comunicação da Titan Base, numa videoconferência com os Defensores na Terra... e agora, estava na enfermaria da base.

Porém, aos poucos, ela vai se recordando do exato momento em que perdeu os sentidos...

E eis que se lembra do que a fez perder os sentidos, em primeiro lugar...

A terrível e impactante revelação à qual sua mente chegou, durante a reunião!

Ela começa a chorar discretamente.

Em pensamento, ela se atormenta:

“Que coisa terrível!”

“Como vou reunir a coragem necessária para contar a todos o que eu acabo de descobrir?”

“E para os Flashman, então?”

“Dependendo de como eu revelar isso, posso sepultar de vez os sonhos daqueles jovens...”

“Isso não é justo!”

“Todo o meu conhecimento é inútil para evitar que haja sofrimento para um dos lados envolvidos nessa delicada questão...”

“É uma decisão difícil e não poderemos evitar perdas...”

“Logo agora que a Mai, o Dan, a Lú...”

“A Jun...”

“A própria Sara e seus pais, o casal Tokimura...”

“Isso tudo me machuca muito...”

Nesse instante, ela ouve uma batida na porta, interrompendo sua aflição...

Eram Jin e Sara.

-Podemos entrar, Nana? – pergunta Sara, por detrás da porta.

-Queríamos falar com você...

-Estamos preocupados. – completa Jin.

Aquilo havia sido previamente combinado entre os dois.

Jin ainda não se sentia confortável em conversar sozinho com Nana.

Não que ele pretendesse se declarar para ela naquele momento, porém Jin temia que, sem Sara para ajudá-lo, ele acabaria falando algo que trairia suas intenções.

Assim ele pensava, pelo menos...

Nana rapidamente se recompõe, mas ela sabia que eles, fatalmente, perceberiam que ela havia chorado.

Limpando seus olhos de quaisquer vestígios de lágrimas, ela responde, tentando manter seu tom de voz normal:

-Claro, meus amigos!

-Entrem!

Jin e Sara enfim adentram o quarto, enquanto Nana força um sorriso para recebê-los.

-Com licença, Nana... – diz Jin, ao entrar.

-Você está melhor?

Como combinado, a partir dali, era Sara quem conduziria a conversa, para evitar constrangimentos.

Nana acena em positivo com a cabeça, porém, logo em seguida, se desculpa:

-Me perdoem pelo incômodo! Não queria ter dado trabalho para vocês!

-Eu sou muito sensível e...

-O confronto dos Bioman e Changeman contra as forças de Neo Mess foi muito tenso e repleto de reviravoltas...

-Eu não suportei a tensão...

-Mais uma vez, me perdoem!

Sara, tomando as rédeas do diálogo, tenta confortá-la:

-Não há o que perdoar, Nana...

-A gente entende perfeitamente...

-Olha o que aconteceu com o Dan...

-Um dos mais fortes de nós, e ele também não suportou a pressão.

Percebendo que Sara havia tomado um rumo mais conveniente para a conversa, Nana intimamente se sentiu mais segura...

Jin, por sua vez, mantinha o semblante sério, tentando a todo custo não deixar transparecer que não estava ali somente para falar sobre a luta dos Bioman e Changeman.

Mesmo assim, seu nervosismo era tamanho que, volta e meia, ele precisava passar discretamente a mão na testa para enxugar o suor que se formava, apesar do quarto ser climatizado.

Por mais discreto que fosse, Jin também não podia evitar de, vez por outra, fixar seu olhar em Nana, apenas para rapidamente desviar os olhos quando eles se cruzavam com os de Nana.

Se ela percebeu, contudo, não demonstrou...

Foi discreta também.

Nana agradece a preocupação dos dois:

-Obrigada pelas palavras, Sara...

-Agora vejo que todos nós, na verdade, queríamos mesmo é estar lá na Terra...

-Combatendo!

-Juntos dos nossos companheiros!

-É esse espírito que nos move e nos une...

Sara segura a mão de Nana, num gesto reconfortante.

Nesse ponto, a guerreira amarela era bem parecida com a sua mãe, a senhora Setsuko.

As provas e as agruras da vida fizeram-na uma pessoa sensata e, sobretudo, empática.

-Claro que sim, Nana!

-Nós viemos aqui justamente para te agradecer...

-Pois temos percebido todo o seu empenho e dedicação.

-Você chegou aqui há poucos dias, e já se entregou de alma e coração à essa difícil missão, que é nos ajudar...

-Tudo o que dissermos ou fizermos será infinitamente pouco, por tudo o que te devemos, minha querida amiga...

Nana fica sem graça com todos aqueles elogios...

Afinal, ela nunca foi arrogante ou fazia algo pensando apenas em recompensa.

E Sara sabia ser gentil.

-Vocês não me devem nada! – Nana responde.

-Estou aqui porque quero, e porque desejo contribuir com o melhor que posso...

-Eu até já me considero uma Flashman...

Jin se encanta com as aquelas palavras e emudece.

“Eu até já me considero uma Flashman...”

Nana falou aquilo de brincadeira, mas ela não podia fazer ideia do tamanho do significado daquelas palavras para Jin...

Ainda mais levando em conta o que ele e Sara haviam conversado minutos atrás.

Ele sente seu corpo paralisar...

Sara, percebendo que o amigo não estava conseguindo se segurar, achou melhor encerrar a conversa por ali, fazendo menção de se despedir:

-Bom, querida... Nós vamos deixar você descansar.

-Nós já vamos indo, não é mesmo, Jin?

O jovem, como quem retornando de um sonho, responde:

-Certamente que sim, Sara...

-Em breve, os enfermeiros lhe trarão uma deliciosa refeição, Nana...

-Fique bem!

-Vamos, Sara!

Sara faz um gesto simpático e se despede.

Nana retribui.

Os dois deixam o recinto.

Ao se ver sozinha, Nana volta a chorar novamente...

Jin e Sara certamente a queriam bem. Entretanto, Nana sentia que sua situação havia se complicado ainda mais com aquela visita...

Por mais cavalheiro e discreto que Jin tenha sido, Nana não pôde deixar de notar que ele não a enxergava como uma companheira de luta, somente...

Por mais que tentasse dissimular, ficou claro para ela que Jin começara a se afeiçoar afetivamente por ela...

E o que é pior...

Ela também começara a sentir o mesmo por ele...

Deitada de lado no leito, encolhida e abraçando seu travesseiro, ela chorava baixinho, por receio de que alguém pudesse ouvi-la de fora do quarto...

-Ah... Jin...

-Eu não quero me enganar...

-Igual aconteceu com Tsurugi...

-Não foi culpa dele...

-Mas, eu me envolvi mesmo assim...

-Mas, agora, está mais forte do que eu...

-Pelo visto, você sente a mesma coisa por mim...

-Mas, Jin, não podemos...

-Você já tem problemas demais sobre seus ombros...

-Temos que ter foco...

-Senão seremos derrotados por Kéferus...

-Quem sabe um dia, Jin...

-Quem sabe um dia...

Nana finalmente adormece.

Nos seus sonhos, uma cena romântica...

Ela olha para o horizonte e vê, ao longe, um cavaleiro com um elmo e armadura reluzente em tons vermelhos e brancos, a cavalgar em sua direção.

Ela estava na Terra...

A noite estava repleta de estrelas...

A lua estava cheia, no ápice do céu... a iluminar a noite dos terráqueos...

De repente, o cavaleiro para à sua frente, desce do cavalo, e retira a parte inferior do elmo, mostrando somente os lábios.

Cavalheirescamente, ele se curva e lhe estende a mão, como se pedindo a mão dela, e ela concede.

O cavaleiro segura delicadamente uma de suas mãos e a beija...

Em seu peitoral, uma rosa vermelha, cuja cor se camuflava com as cores da própria armadura...

Ele, com cuidado com os espinhos, coloca delicadamente a flor na mão de Nana, que a leva até o rosto para cheirá-la...

Em seguida, o cavaleiro abre o visor do elmo, revelando seu rosto...

Só então ela o reconhece a pessoa por detrás da armadura...

-Jin, é você? – ela exclama, com espanto.

O cavaleiro lhe responde, de modo gentil e romântico:

-Surpresa, minha rainha?

-Não fique...

-Saiba que esse humilde soldado, desde quando te viu, nutre os melhores e mais sinceros sentimentos por ti...

-Esse teu servo, não segurando a paixão que arfa em meu peito, não pude mais me conter e tenho a ousadia de te pedir algo...

Nana abaixa os olhos, ruborizada.

Ela sabia o que era...

Ela queria sentir...

Em poucos segundos, os olhos dos dois se fixam por alguns instantes, mas que pareciam uma eternidade...

Não existia mais nada além deles...

Tão e somente eles...

Os lábios se aproximam...

Levemente se tocam...

Não resistem e, apaixonadamente, se beijam...

Apaixonadamente...

Nana talvez até soubesse que estava sonhando...

Mas ela queria, pelo menos naquele instante, acreditar que tudo aquilo era real.






Notas

(*98) Mangás são as famosas histórias em quadrinhos japonesas. No Japão, quadrinhos não são exclusividade de crianças. Há quadrinhos direcionados para vários públicos: crianças, adolescentes, adultos, homens, mulheres...

(*99) Assistir ao episódio 39  da série Comando Estelar Flashman intitulado “Furor da Tempestade".


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